sábado, 31 de julho de 2010

2 em 1 (or Me at the Beach)

24jul
Us at the beach

I keep forgetting about “real life” here at Pipa. We're all living this little palm-tree beach fantasy and nobody wants to wake up. Everyone wonders about real-estate prices and how easy or hard it would be to try and make a living as an artist or musician. Waves lull us back and forth between the sky and the sand and we all fall asleep to the smell of sweet sweat and salt, after a hard day's work of walking, climbing, sunning, raining and swimming. Portunglês is our language and it is lovely as honey. Lots of laughs, lots of music, lots of just letting GO, finally, after so much holding in and back, so much tension and tired eyes. Slowly it will all dwindle...I am one of the last ones to leave, back to where BSB awaits with its same old haunting question marks and screeching scratched disks. Please, I beg, and pray from among my beach sheltered dreams, PLAY ANOTHER TUNE! Move on! Amen.

31jul
Through Hidden Tears

Eu pedi por você por entre lágrimas. Toquei meu ventre, mãos fechadas em concha, em calor de uma promessa de vida. Vi tuas roupinhas coloridas em tamanhos que cabem nos meus braços e pedi por você.
Eu pedi por você entre lágrimas. Vi os viajantes com suas presenças flutuantes e temporárias, com olhares de novidade que estranham tanto sol e que tropeçam no obrigado. Senti o peso da mala, a mochila nas costas e a passagem na mão. Pedi pela liberdade dos recomeços que passam pela alfândega.
Eu pedi por você entre lágrimas. Nascer de novo com 24 anos, pernas fortes e pés incansáveis com a força de quebrar correntes. As mais tenazes são as metafóricas. A mais teimosa sou eu.
Pedi por me merecer.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O não-caminho


Era uma vez, um caminho.
Eu o escolhi, ou ele me escolheu, há controvérsias.
Mas o fato continua sendo, havia um caminho. Ele foi se tornando nítido a partir de uma escolha e a lógica era incontestável – se escolhi o primeiro passo, todos os outros se encaminharão, não?
Agora o caminho sumiu, aos pouco perdeu a cor, o brilho e a nitidez. Tentei comprar óculos, pois certamente minha visão me falhava e me enganava! A dois segundos o caminho estava aqui!
Os óculos só me davam dor de cabeça. Enxaquecas.
Então, havia um caminho e não sei onde foi, onde foi que eu me desviei dele e pisei nas selvas selvagens de uma vida por viver e escolhas outras a fazer. Não há mais obviedades, menina.
Eu continuo caminhando com a lembrança de sua sombra. Seria por aqui, se existisse, não?
Hoje parei de enxergar o caminho, nem na lembrança. Começo a pensar naquele primeiro passo que definiu o caminho por inteiro e penso nas ilusões que criamos; como é bom alucinar com um caminho certeiro. Aqui nas terras sem caminho o terreno é difícil, piso por cima das ervas daninhas, tenho que cortar os galhos que aparecem, virgens e ignorantes de nós e nossos caminhos.
Lembro do primeiro passo e a arrogância que seguiu junto a todos os outros. Olhem pra mim e meu caminho! Sucesso, realização e sabedoria garantidas com a entrega de um diploma, um currículo e um parabéns! Siga em diante para suas pós-graduações, siga sempre em frente, não pare não pare não pare! É uma estrada larga mas me faz lembrar a Trans-Amazônia, cheia de poeira e levando a morte por onde passa...Alguém disse que saberíamos tudo da Amazônia andando por essa estrada larga, mas...há algo estranho.
Havia um caminho, havia eu.
Havia um passo, havia milhões de passos que foram seguindo mesmo com os questionamentos que gritavam mais alto a cada passo dado. Comprei em vão mais e mais óculos de grau.
Hoje joguei fora os óculos e admito:
Não havia um caminho e nunca houve.
Me assusto frequentemente ao me ver longe do que pensava ser o inexorável caminho, me assusto com os ruídos que vêm da selva, desconhecidos, intocados e vorazes. Meus ruídos. Cheguei a achar que fosse morrer, devorada. Ainda me assusto, mas aos poucos me aposso da enorme beleza do meu novo não-caminho sem mapas.
Prados, desertos, mata, cerrado.
Rios que dão em praias, praias que dão em oceanos, oceanos que dão em continentes. Não há caminho mas também não há pressa. Não há norte e não há sul.
Era uma vez...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Il primo aprile, 2006



It's kind of a fairyland of language for me here. For someone who has always wanted to speak Italian, what could be better than Rome? It's like someone invented a city just to suit my specifications, where everyone (even the children, even the taxi drivers, even the actors on the commercial!) speak this magical language. It's like the whole society is conspiring to teach me Italian. They'll even print their newspapers in Italian while I'm here; they don't mind! They have bookstores here that only sell books written in Italian! I found such a bookstore yesterday morning and felt I'd entered an enchanted palace. everything was in Italian - even Dr. Seuss. I wandered through, touching all the books, hoping that anyone watching me might think I was a native speaker. Oh, how I want Italian to open itself up to me! 

 Elizabeth Gilbert - "Eat, Pray, Love"

Fairyland of Language


Il primo aprile, 2006


Então, olha só meu 1o dia de aventura na Europa...Cheguei bem na França, "descansada" (porque nunca dá pra descansar 100% num avião, convenhamos). Aí, em Roma, não achava de jeito nenhum minha mala.  Me disseram que tinha ficado em Paris mesmo e que eles vão mandar para mim lá em Castelraimondo. 
Isso depois de eu ter rodado por muito tempo, sem saber com quem falar ou o que fazer. Demorei uma hora até criar coragem de chegar ao balcão e perguntar em italiano "Dov'è la maledetta??!!". Brincadiera, não foram minhas primeiras palavras a um italiano na Italia....foi algo mais um tímido, "per favore...".
Quando resolvi toda essa questão, saí CORRENDO do aeroporto para a estação de trêm, que fica incrivelmente longe e do outro lado. Paguei um bilhete para não sei o que, porque ninguem olhou nem pediu, cheguei em Tiburtina 10 minutos depois do ÚLTIMO trem para Castelraimondo. Fiquei perdida de novo....decidi ver se tinha algum ônibus. Allora, também não tinha (isso depois de eu comprar um para o lugar errado, ou melhor a mulher entendeu errado! Quase que eu ia para Lanciona, sei lá onde fica isso...) Voltei para a estação de trêm para comprar um cartão telefônico para ligar para a tal da Giorgia, mas não consegui fazer a ligação depois de 1000 tentativas. As luck would have it, um homem percebe meu desespero e pergunta se eu preciso de ajuda. Expliquei. Ele me emprestou o celular (e ficou me apressando, nem deu para falar direito com a mulher, mas pelo menos deu para avisar que eu não chegaria hoje e ela me deu instruções para ir a estação Termini e prcourar um hotel). O homem italiano ficou falando comigo, não ia embora e entrou em temas estranhos como sua devoção ao Catolicismo ("eu sabia que amanhã é o aniversário da morte do Papa, um ano exatamente??") e sobre sua mulher que também era muito religiosa e que morreria de ciúme ao saber que ele estava ali a essa hora (quase meia noite) me ajudando e que ele deveria ir pra casa (apesar de eu insistir que estava tudo tranquilo agora...) E bla bla bla!
Ele desceu antes de mim do metrô, graças a Deus. 
Mas ele me ajudou bastante apesar da esquisitice, me acalmando (não conseguia parar de chorar de tão cansada e nervosa) e com as instruções de como achar um hotel aqui. 
Saí de Termini e fiquei andando pelas ruas de Roma da sola, di notte, atrás de um hotel com um preço mais ou menos. Achei um, mas estava cheio...Fui para outro e também estava cheio. No terceiro que estava cheio não aguentei e me debulhei em lágrimas na recepção. O Salvatore, recepcionista simpático e velhinho foi gente boa comigo (como diria a Júlia, um vovô) e telefonou para alguns lugares para ver onde haveria vaga e finalmente me deu as instruções para chegar até aqui....um hotelzinho simpático, Ascot. 50 euros, mas eu não estou em condições de achar um mais barato - de noite, sozinha e sem conhecer um A dessa cidade. E mais - cansada até a alma depois de tanta confusão. Não consegui ligar ainda para minha mãe, mas sei que ela sabe que estou bem. 


Ah sim, e tudo isso em italiano tosquíssimo (ainda estou com vergonha) e SEM MALA. Sem roupas novas, sem a necessaire, sem nada a não ser o kit de sobrevivência dada pela companhia aérea como compensação por uma mala perdida. Fala sério. Pensando bem, porém, ter feito tudo isso que fiz com uma mala de 30 kilos não teria sido nada fácil, então...Mas também tem o pequeno fato de que - se a mala tivesse chegado lá comigo, não teria passado por nada disso! Então há dois lados para essa história!


Mas agora está tudo tranquilo. Depois de um banho de gato e uma camiseta branca cortesia da AirFrance, eccomi.
Vou pegar o primeiro trem domattina. Assim vai dar para ver um pouquiiiiinho de Roma e a paisagem no trêm. 
Não caiu a ficha que estou na Europa. Outro continente, totalmente desconhecido e eu totalmente desconhecida a todos. Me sinto como nunca me senti antes: segura - mesmo com tudo isso que aconteceu. Não estou sentindo homesickness. 
Veramente strano tutto questo! Obrigada Deus, me sinto...posso dizer? Feliz!




 Maya a Roma

terça-feira, 13 de julho de 2010

Éramos três



Clack clack clack clack....

Do meu quarto, levanto a cabeça de algum livro e fico de orelhas alertas.
O som aumenta e chega ao corredor.
Clack clack clack....

"Mãeeeee??"

"Oi!?", vem a voz do outro quarto.

"Vem cááááááá!!"

Clack clack clack clack....Ela está na minha porta.

"Que foi, tem que ser rapdinho, tô no meio de uma consulta."

"Nada...só queria dizer oi."

Ela sorri e consente alguns segundos de seu tempo para vir dar um beijo.

E assim como veio, vai...clack clack clack. Volto ao meu livro. 

Tenho 8 anos. Tenho 9. 10.11.12.13.14... Os clacks que anunciavam a presença de minha mãe deviam sempre ser checados, pois presença não queria dizer necessariamente disponibilidade. As vezes não dava para parar na porta e dar um beijo. Muitas vezes era pressa ou crise ou estresse. Mas a gente sempre esperava o momento em que podíamos gritar: "Mãeeeee?".
Era a maldição e a benção de morar no mesmo lugar que era o local de trabalho dela.  Sempre estava ali e nunca sabíamos se realmente estava.

Eu tomo muito cuidado ao falar da minha infância com minha mãe. Tomo extremo cuidado para não passar o clichê de filha esquecida nem o de mãe que vivia para o trabalho. Defendo minha mãe e o que ela teve que fazer com unhas e dentes mas sei que fui uma das mais prejudicadas, junto com minha irmã. E, claro, sem falar da minha própria mãe. Após o divórcio do meu pai, minha mãe se viu diante do desafio de criar 2 filhas pequenas e uma empresa recém-criada que estava em plena expansão, no auge dos anos de carreira e realização profissional. Os 3 bebês eram interdependentes, pois para manter-nos no Brasil com ela, o combinado era que ela deveria poder ter condições financeiras de nos mandar a escolas americanas e poder viajar para visitar meu pai, além de pagar a dívida com ele pela compra do terreno e os custos da construção. Sufoco geral. 
Tomo muito cuidado, mas não posso esconder que é algo que me entristece e que ainda dói. Confesso que não sei como fazer as pazes até hoje pois ainda é uma ferida aberta.

Éramos três; três em quantias flutuantes, pois os anos passados com meu pai dividiram nosso tempo juntas. No começo de sermos três, éramos uma criança, uma bebê e uma mãe solteira. Eu sendo a criança. Morávamos no meio do nada no que hoje é um dos bairros mais afluentes e caros de Brasília. Mas na época, não havia asfalto, supermercado, farmácia ou linha telefônica. Era nós, a terra e o cerrado. Quando não estava na escola, estava inventando a próxima aventura na nossa terra única. Não conhecia as Superquadras e SHIS's dos meus colegas, nem sabia que existiam. Tínhamos espírito de pioneiros e é com certa saudade que eu lembro da época em que batalhávamos contra as tempestades de verão com baldes e panos tentando aplacar as goteiras e das velas que iluminavam muitas noites sem luz. Lembro até hoje da sensação de fazer meu dever de casa a luz de velas no balcão da cozinha. Era nosso lar, cheio de figuras além de nós três que o compunham - uma mistura de veterinários e funcionários que integravam a recém nata e rapidamente famosa Animax. Era família. 
Talvez eu tivesse tido mais facilidade de me resignar a ausência presente de minha mãe do que minha irmã por ter 8 anos e ela 4. Eu tive a presença dela nos meu anos de bebê e agora tinha um orgulho e apego feroz a ela e tentava lhe deixar em paz para que ela pudesse trabalhar e, inevitavelmente, poder descansar também. Quase não saíamos nos fins de semanas, sair de lá para ir no shopping era um evento e tanto, pois tínhamos nossa mãe só para nós. Sem dizer que sempre era sinônimo de compras. Na sua exaustão o que ela tinha para nos dar vinha do que o dinheiro podia comprar. Quando conseguíamos convencê-la de sair para alugar um filme e assistirmos todas juntas, também era um festival. Pipoca e tudo que tinha direito. Quantas vezes, porém, o meu coração partia ao toque do telefone que a chamava para ajudar com algum problema lá no hospital. Eu tinha vontade de gritar quando isso acontecia mas aquela parte madura e sensata falava mais alto "você tem que entender!" e em vez de amargurar, tentava desamargurar minha irmã que não conseguia ser tão "legal" quanto eu. As vezes conseguia distraí-la e envolvê-la no filme e depois em alguma brincadeira.
Muitas vezes não.
E aí eram birras e birras sem fim. Choro, raiva, gritos, mordidas e portas fechadas a estouros. Acho que uma chegou a quebrar. Tinha medo das birras da minha irmã e das reações da minha mãe. Tentava proteger as duas. Tinha raiva da Laisa por não conseguir entender e também da minha mãe por também não conseguir entender. Acho que as birras eram tantas que não deu tempo nem espaço para eu ter uma minha. Seria o cúmulo, duas filhas tendo petis ao mesmo tempo. Ainda mais eu, a mais velha...tinha que ver o comportamento da minha irmã e achá-lo infantil. Eu teria que servir de contraponto nisso tudo, algo que todo mundo não parava de enfatizar: olha como a Maya é madura, gente, é um anjo, é uma sorte danada que ela veio primeira...A garota dos olhos de todos. Que sorte que você não dá trabalho! 

Quando eu "dava trabalho", era causa de espanto. Eu tinha muitos medos, mas como vivia praticamente entre a escola e a ilha deserta que era minha casa, nunca vieram a tona com muita clareza. Além do mais, minha mãe parecia se orgulhar do fato de que eu só queria estar com ela, como se fosse um testamento à nossa relação leal e parceira. Minhas mini-crises eram vistas mais como "ah, está com saudade do pai", ou "ah, está com saudade da mãe", pois comecei a ter crises de choro em volta das viagens que se apresentavam pelo menos 4 vezes por ano indo e vindo dos EUA. Uma vez, quando voltei a Brasilia depois de minhas férias no meio do ano, estranhava tudo de tal forma que não conseguia parar de chorar. Devia ter 9 anos, não lembro, ou 11? Minha mãe sempre reagia da mesma forma: "quer que eu te faça algo gostoso para comer?" Aquela noite em particular ela me deu um pão com presunto e queijo, lembro direitinho como a promessa de que aquele pão teria poderes mágicos caiu aos pedaços. Comi aquilo com gosto amargo e pensei, isso não tira a dor do meu peito. Mas ela acredita que vai tirar, ela quer que eu acredite nisso. Então chorava o resto que tinha que chorar no silêncio do meu quarto. Em algum lugar dentro de mim sabia que minha mãe não dava conta e que eu tinha que dar um jeito de convencê-la de que ela me ajudava, só para não piorar a situação.

Alguns anos depois, o pão virou um calmante. Toma minha filha, toma isso, vai melhorar...Eu sei, eu sei que no mais fundo do coração dela ela queria me ajudar, mas essa era a forma que ela conhecia. Mal sabia eu que ela já usava medicação da pesada havia anos, remédio para dormir, remédio para acordar, remédio para dor, etc. Ela não sabia se cuidar, não sabia como cuidar de emoções, como ensinar a suas filhas? Ao mesmo tempo absorvia a culpa que ela exalava, sem entender. Tinha tanto cuidado para não fazê-la sentir culpada, tanto cuidado de mostrar que estava bem para não aguçar sua culpa. Incrível o que captam as crianças. 
Tomava essas pílulas com raiva também, me sentindo traída em algum sentido. A mensagem era clara ao meus sensores de não-dito: é melhor não sentir essas coisas. Ao mesmo tempo o velho refrão: não dou conta de te ajudar mas te dou o que posso. 

Então, aprendi a não mostrar ao máximo emoções de medo, tristeza, raiva. Não mostrar choro, não pedir colo. Pior de não ter colo é pedir um colo e não encontrar nada reconfortante nele e ter que pedir para sair. Claro, que as vezes não dava conta e saía do quarto banhada de lágrimas e pedia ajuda. Aí ela fazia algo "gostoso para comer" ou então um chá de erva cidreira. Para mim, esse chá tem o gosto de choro até hoje.

Hoje em dia, quando estico a mão para alcançar o Rivotril, juro que lanço olhares de fúria para aquela garrafa. Não é você que eu quero mas é você que eu tenho. Te odeio mas você me cuida. Te odeio, você entende isso? Eu vejo minha mãe em mim e quero jogar o vidro pela janela, quero jogar em um buraco que vá até o fim do mundo e cuspir em cima. Quero dizer para minha mãe que existem outros jeitos, mas no final eu também fiquei meio analfabeta das emoções e fico queita para não ser a hipócrita que pede para que ela pare de depender disso mas ao mesmo tempo carrega um na bolsa. Tento me convencer de que não é a mesma coisa. Mas tenho minhas dúvidas.

Clack clack clack....

"Mãeeee??"
"Oi!?"
"Vem cá!!"
clack clack clack....
"Me põe pra dormiiiiiir?"
Ela sorri e caminha até a cama, puxa o cobertor em volta de mim. Pega o Bunny, meu coelho de pelúcia e o coloca ao meu lado. Hoje ela tem um pouco de tempo. Ela deita na cama do meu lado, encolhida para que caibamos as duas. 
"Posso ficar um pouco com você?"
Ela se deita e me desespero ao perceber que ela adormece. Não sei o que tem de demais, mas seu cansaço e comforto na minha cama me incomoda tremendamente. Me assusta de um jeito que me faz sacudí-la.
"Mãe, mãe..."
"uuuh"
"Você tá dormindo..." (ou seja, por favor, vá dormir na sua cama)
"Ok, boa noite minha filha"
"Boa noite".

É melhor assim.

Sinto falta de minha mãe de forma abismal.

Bunny...quantos choros você acalmou. Eu te abraçava e pedia, por favor, make it stop, make it stop....E quando eu me cansava e acalmava na ressaca pós-choro, te agradecia - thank you bunny, thank you...
Você foi meu filhote, meu amigo, confidente e com seus olhos profundos e sábios, foi a presença onipresente que precisava. 

segunda-feira, 12 de julho de 2010

WRONG

Hora de dormir e estou com medo...na verdade, o dia inteiro senti medo dessa hora. A pressão voltou, a pressão ensurdecedora. Tive tanto medo que nem quis ver quem me ama e quem amo por medo de fazer mal, só de estar perto de mim. 


Ontem. Deitei. Apaguei a luz.
Rolled one way, then the other.
É só questão de tempo, vira aqui, vira ali....
Fique quieta!
E sim, questão de tempo
Bem rapidinhos, eles têm sido.
Voosh to the brain. Voosh to the images and thoughts and sayings.
Nítidos e sufocantes.
Vocês são insuportáveis e respeitáveis. 
Peguei o objeto cintilante, peguei firme nele e vocês sorriram.
Olhei e pedi a deus, ajuda. Aí soube o que fazer.
Sem sorrir entreguei a quem pode cuidar.
Voltei ao centro espírita onde cuidaram de mim com tanto amor a outra semana, onde me passaram tantos recados importantes e acreditei:
Vocês estão aí, como disseram, então toma isso daqui e me proteja. Peque essa cintilação e escondam de mim. 
Se eu pedir, que esteja com vocês e não com eles, vocês terão prudência e carinho. 
Eu não quero me cortar. Nem me machucar. Não quero querer isso.
Não quero machucar ninguém.
Mas então, mas então, por favor.
Por favor, alguém me explique então, porque quero? Porque querem?
Entreguei a maldita faca sem sentido e disse, cuidem.
Logo em seguida, dormi. 


A solução é sempre essa. Dorme - amanhã você vê. Assim vou levando muitas coisas e outras coisas vão sumindo e acalmando. Se extinguem. Não sei, não sei, não haverá uma grande conclusão nem grandes dizeres. Hoje me exauriu.
Posso fazer o mesmo comigo mesma igual que fiz com a faca? 
Olha só, me entrego a vocês, cuidem. Cansei.


Me contaram esses dias da crença indiana de que temos 3 fases na vida...na primeira somos cuidados, na segunda cuidamos de quem nos cuidou e também dos que geramos....na terceira somos cuidados pela sociedade e acabam os deveres familiares. 
Cuidados, palavra que mexe comigo.
Fiquei pensando...Se alguém cuida e é cuidado ao mesmo tempo na primeira fase, não fica com um pouco de crédito na segunda para continuar a ser cuidado? 
Talvez não me sinta tão culpada então de pedir.
I feel completely WRONG today. All wrong. All wrong and inside out and topsy turvey. It scared the hell out of me. Who am I kidding, I have no idea what I'm doing and what's going on. Sometimes I believe that I do, and I probably do, but then days like this come along and it turns around on me. And in the same way I can believe and KNOW what I'm about, in the same old way, I go and NOT KNOW a damn thing. It fades away and I feel cheated by myself. 
When days like these come along, I feel angry, unreliable, fickle, stupid, little and scared. Have I mentioned scared? Lots of memories come knock at the door of people and pains I wish were behind me and I really thought were behind me. Where do they come from? Go away. Wasn't I doing things right and prettifully? wrong! or right? or what?


And it so might happen that tomorrow I might wake up and feel like erasing this in shame, hoping nobody read it because - what was I thinking?
That is very likely and possible and also drives me crazy. What can I write then, what should I write? It already feels embarassing and I still feel what I wrote, imagine when it's not as clear?
Afff, like all the rest, this post feels all wrong too.
Good night!

sábado, 10 de julho de 2010

Filhas, gatos e tangerinas

Minha filha surgiu de novo nos meus sonhos.
Dessa vez eu tive que abrir mão dela para uma outra menina, eu só servi parar gestá-la. Me deixam segurá-la e dou de mamar, surpresa que tenho leite. Ela mama sem problemas e sinto uma emoção tremenda, ela é linda e mama olhando para mim, olhos redondos, azuis e intensos. Quando termina ela vira uma Barbie e tenho que devolvê-la a mãe de verdade com muito pesar.

Devido à insitência desse tema na minha vida onírica, decidi desenterrar mais alguns...

Eu estava grávida e dei a luz a 5 gêmeos. Estava apaixonada por eles...mas algo acontece, estou na cidade, fazendo alguma coisa e acontece um incidente violento/crime comigo no meio do caminho e fica difícil voltar para casa. Estou desesperada por causa dos meus filhos. Consigo voltar e começo a pensar no tanto de gente que ainda precisa conhecer meus filhos...Me sinto cheia de sentido na vida, 5 crianças dependem de mim.

Estava dando à luz e eram gêmeas! Mas de repente o sonho fica distorcido e os bebês são gatinhos, gatinhos pretos e são muitos! Tenho dificuldade de cuidar de todos pois eles já caminham e vão pra tudo quanto é lugar.

Estava na casa do meu pai, no campo, na montanha e estávamos tendo uma reunião de família, só que por parte da minha mãe (eles ainda estavam juntos). Antes da grande ceia de alguma coisa (Natal?) saí para correr pela montanha cheia de prados verde, de modo que não dava para ver além da próxima subida. Corri e corri e corri muito e não me cansava. Fiquei admirada com minha forma física...Nem meus músculos doíam! Na volta, estou carregando um gatinho filhote (não sei de onde saiu) e continuo correndo carregando ele...só que ela vira um filhote de cachorro numa história muito bizarra. Nop meio da corrida passo por um carro-forte que está transportando prisioneiros de guerra, negors. Eles tem que entrar no carro para prosseguir a viagem. um deles tem um cachorro e quando ele vai pegá-lo no colo, um guarda atira e mata o cachorro. O homem fica desesperado de tristeza, o cachorro era o melhor amigo dele. Um outro prisioneiro, vendo o que aconteceu, corre atrás do filhote dele, para que não seja morto também. O guarda atira e atinge o outro cão, o homem continua correndo e pega o filhote nos braços e recebe o segundo tiro do guarda. Ele cai e me pede para cuidar do filhote dele. Ele é largada na estrada, morto. O carro vai embora. pego o cachorrinho ferido e continuo a correr. Agora tenho uma missão, salvar o cachorro! Corro e corro e corro e ele se mexe, tentando sair, o que eu interpreto como um bom sinal, pois ele não está tão ferido assim. Finalmente ele dorme e quando chego na casa, ele é novamente o tal do gatinho preto. Solto ele no jardim para se esquentar no sol e a Laisa está lá brincando com seu cachorro, correndo para lá e para cá. Começa uma chuva torrencial, alagando tudo, e peço pra Laisa pegar o gato para ele não se afogar. ela pega e me dá, continua correndo para lá e para cá com o cachorro atrás dela e com água até o tornozelo. Entro, coloco o  gato numa toalha para secar...vou par ao outro quarto com sol, abro a toalha e o gato vira uma tangerina que está desintegrando, seus gomos estão despedaçando de tão secos. Penso que essa tangerina é minha responsabilidade, ela foi confiada a mim e devo fazer de tudo para que ela fique bem! Junto os pedaços num papel.

Estou grávida e dou à luz a um menino. Ele fica no berçário, quase não o vejo. Acho estranho, porque não me sinto realmente "mãe". Vou levá-lo para casa, ele vai no meu colo enquanto dirijo. Quando paro o carro olho para ele direito - eu penso: "tem bom tônus", enquanto ele se mexe, incomodado. Dentro de casa todo mundo quer ver, segurar. O bebê vira um gato persa, igual à Molly, só que macho Fico preocupada com a reação dela mas eles se dão muito bem, se enroscam. Fico com medo deles estarem atraídos sexualmente. Falo para minha mãe e la diz que não tem problema porque a Molly é castrada.

e etcetera, etcetera, etcetera!!

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Sniffles

sniffle sniffle snot snot coughhhhh sniffle.
You win! You win! I am but an insignificant being next to the grandeur of mother nature and her fluids.
I must confess though, it feels nice to surrender and sink into this underland of paracetamol and  hot drinks and heavy heads on pillows. Therein lies the difference between a cold and the flu. The cold is something you can live with and allows you a reason to slow down and go with the throws of what your body dictates. The flu is just hell and pain and makes you want to see health as soon as possible.

Plugged up in my own little world...

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Oh let's get rich!

Oh let's get rich and buy our parents homes in the south of France
Let's get rich and buy everybody nice sweaters and teach'em how to dance!
Let' get rich and build a house on a mountain making everybody look like ants
way up there, you and I, you and I. (Ingrid Michaelson)

Listen here: http://www.youtube.com/watch?v=OvMVCHhwTPs


I feel overwhelmed with the amount of doctors/treatments I'm supposed to be (not) seeing/(not) doing. 
First of all, my mother's eternal battle and push and shove for the Dermatologist-God. "Você não vai não? Vai minha filha, vai...você é tão bonita com esse rosto assim...vai por mim, vc não vai querer ter 50 anos e um rosto esburacado e pensando "eu devia ter ido quando era jovem""!  MEDO. Além da chantagem emocional que está implicada ai...
Then there's the neurologist/acupunturist/therapist/general clinician for blood work. I don't have the faintest idea of where to start and the slightest motivation to get informed. It's just too much. People pro medicine, people wary of medicine, people pro acupuncturists, people who defend neurologists, people with horrible neurologist experiences, people who don't care about my pimples and my mom who scrutinizes every inch of skin (and me, scared of being a hideous 50 year old). Pills for this, pills for that, pills for getting off pills, pills to help with side-effects of other pills, pills that don't allow themselves short-term usage, why not, why not, why not...? stuck. And really, in the end, it's all an experiment because nobody's sure of anything. Just dandy!


What about...
I dream of getting out of here and out of the symmetrical roads and avenues that make up this city and going you know where.
I dream of leaving behind the psychiatrist and the hundreds spent on that each month, dream of having this be just a bad dream and not 7 years of drug polemics. Start over. Give my body a new chance to try again in its purity. 
Dream of speaking/living/breathing another language, working somewhere I could have never imagined (and therefore never feared) and taking subways and buses with that liberating feeling of independence that so makes me glow. 
Let's get rich and go to Italy! Now we're talking...


Well you might be a bit confused
And you might be a little bit bruised
But baby how we spoon like no one else
So I will help you read those books
If you will soothe my worried looks
And we will put the lonesome on the shelf!




segunda-feira, 5 de julho de 2010

French Bubbles

My brain is bubbling with French now. Actually, bubbling with grammar world-wide. It sparks me to life as new vocabulary enters my neural connections and my world can make sense in different languages. Fascinating. Fascinating to give someone this view through teaching, as well. Teaching the basic "I eat, I don't eat, Do you eat?" may seem boring but to me it's nothing short of a miracle, like hearing a baby gurgling its first words. Where and what is the magic step between exposure, teaching, repeating, learning and KNOWING? 
Whatever it may be, I love it.
craindre, peindre, devoir, faire, tenir, venir, aller, falloir, vouloir, connaître, avoir, savoir, partir, choisir, épeler, acheter, voyager, bouger, travailler, visiter, accepter, aimer, étudier, habiter, parler, manger.
Sont le mons que vont tres bien ensemble, tres bien ensemble


BTW, for all you language users, learners and lovers, here's one of my favorite and most used sites ever: www.wordreference.com. Check it out...


My dizziness ensues. Let me try this out...J'ai mal à la tête! Oh la lá!
If I try to describe what I've been feeling of late, I'm pretty sure I'll get strange looks followed by inpatience followed by no importance given to the hysterical psychossomatic woman. It feels like something I could call a headache but I know it's not, for it feels like a hole opening up in the middle of my brain, making me dizzy and nauseous. It variates in intensity throughout the day but it's always THERE, just THERE, pulsating and waiting. Then it clenches and squeezes and opens the hole even more and suddenly, where is it? At one point this afternoon, I didn't feel real to myself, I felt like I was floating away and disappearing. I seriously felt fretful for my sanity and even let myself pronounce outloud "Do I exist?". Of course noone caught on or understood my question and I quickly changed the subject into something else. 
None of what I've been living feels real to me. Everything is going well, everything is going smoothly and fresh-yogurtly, yet I have trouble assimilating that it is me in this body and in this life. I see the scenes of my life through some weird mechanism in which I know that is nothing more than memory a few minutes from then, where I know that I can hear, but that doesn't necessarily mean listen. Same for looking and seeing. The more I am learning to just be, guiltless and freely, the more I feel like I'm fading away. Floating, fading, fading, floating.
M'envole, m'effacer
au revoir!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Tabitha

Começa aqui a série "Meus Gatos". Está mais do que na hora de apresentá-los ao mundo e para a mamãe orgulhosa ser enjoada e falar de seus filhotes amados.



Tabitha é a primeira do trio e veio alguns meses depois de minha querida Molly falecer de leucemia felina. A escolhi entre os vários gatos esquecidos para adoção no hospital por sua pelagem e seu ar de Lady desde pequena.
Rainha das poses extravagantes, do deliciar-se em meio a cobertas e superfícies macias, Tati-bi-tati é a única felina que conheço que pede para ser escovada e se retorce de prazer ao ser massageada e prumada.
Como boa filha mais velha vela pelos outros dois caçulas e meninos, além do mais. Olha com ares de moça desde seu posto no alto enquanto os outros dois se debulham em brincar de brigar e derrubam objetos pela casa. Me coço para imaginar o que passa pela sua cabeça quando fica nesse estado de observação tão centrada.
Fique de barriga pro alto que logo ela vem e se acomoda em cima, olhares expectantes em busca de mãos que acariciem. Com firmeza e carinho ela indica os lugares prediletos, debaixo do queixo e atrás das orelhas e com graça aceita quando o momento acaba e simplesmente se afunda no sono pós-mimos.
8 da manhã é o alarme que vem e pacientemente (ou as vezes nem tanto) avisa que o  nível de ração fresca está alarmantemente baixo.
Dormir junto com ela é um dos prazer mais gostosos que há, fale a verdade, quanta paz pode existir dentro de um gato só?
Amo-lhe amo-lhe!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Ser-Humanismo

Humanismo.
Ser-Humanismo.

Movimento, Filosofia, Rogers? De qual Humanismo devo falar, do que alcança desde quando o homem começa a pensar sua condição enquanto homem ou talvez daquele que os psicólogos tendem a abraçar quando brigam com as dinastias do Comportamentalismo e da Psicanálise? Devo entrar nas artes, no movimento brilhante do Renascentismo, da literatura, da política...da mudança da sociedade ao longo dos nossos tantos milênios?

Explicações: Fui incumbida de escrever sobre esse singelo assunto para o próximo trabalho intermediário do curso de especialização e mesmo antes de me aprofundar nas leituras e pesquisas que antecedem a escrita, senti um ligeiro apavoramento. Não via maneira de abordar esse assunto nem jeito de começar pois tudo escapava ao meu jeito usual de pensar (ou até me interessar) pelas coisas. Então comecei escrevendo como se estivesse escrevendo só pra mim, tal como já faço...e as coisas começaram a acontecer. Respiro aliviada a ter uma base em cima do qual elaborar meu texto. Agora é só incluir as referência que dizem tudo isso que eu digo e estamos prontos! :P (Tem muito mais texto mas para os propositos de um blog coloquei só essa parte).

Acho que esbarro em uma questão antes de esbarrar em “o que é o Humanismo”? que é o tal do “O que é o ser humano?”. Aí começo a ver um caminho para começar a escrever.
É a visão do ser humano que diferencia um “ismo” do outro. Como é vista essa coisa que sou eu, que somos todos nós? Nessa sentido, seja qual for o Humanismo a qual nos referimos, a resposta transforma o “que” dessa pergunta a “quem”. Quem é o ser humano? Palavra que tranforma a pergunta e mostra todo o pressuposto que subjaz tal mudança: deve-se falar do humano a partir do humano.

Como assim, falar do humano a partir do humano, que doidera?  Não é óbvio que fazemos isso?

Não. 
Esse “quem” traz a tona a naturalização que carregamos dentro de nós de que deve-se estudar todas as coisas segundo o modelo das ciências naturais que se embasam na filosofia positivista. Nesse modelo a verdade está aí no mundo, fora de nós, e para alcançarmos a verdade devemos sistmatizar o estudo em métodos que permitem o olhar objetivo sobre ela. Tiremos o tal do subjetivismo que atrapalha a nossa neutralidade e nossa capacidade de chegar a verdade.
 Já naturalizamos que para algo ser ciência, a objetividade deve reinar e deve-se fazer a cisão entre o quem estuda e o que é estudado. Quando abordamos as ciências humanas, porém, temos um dilema natural: o que fazer quando  “quem” observa e o “que” é estudado são a mesma coisa? Onde cabe a objetividade, onde está o objeto? Ao reformular a pergunta em “quem é o ser humano”, cria-se outro caminho para o conhecimento. Esse caminho não ignora as questões expostas acima mas simplesmente não as torna em problema. A resposta é – estudaremos o ser humano com o pressuposto de que é um ser humano. Além disso, é um ser humano que se debruça sobre si mesmo e tem todo o direito e fazê-lo tais como as mãos de Escher que se desenham e são desenhadas. Apreciemos o paradoxo de sermos como somos!