quarta-feira, 19 de outubro de 2016

My second pregnancy


But now it's June 30 and no period...
Part of me wants it
Part of me doesn't.
It will always be so.
I will never be able to be 100% anything.
so let go of that fear,
Not wanting it doesn't mean you don't want it, get it?
One doesn't cancel the other out.

July 1st - The day two pink lines showed up on the stick
I feel full. 

It's all been different (so far) and I couldn't be more grateful
It's like this baby exudes calm. 

When I focus on little embryo-fish…
All curled up in his lenti-sized self with no eyes, arms, legs…
I can't feel scared of it.
I want to protect it and just be me and him. 

September - 
Tummy's getting big and round….
Big and round.
I feel baby's little flutters, wild kicking which for now only feels like ripples and later will feel like a log wedged in my ribs. I remember well. 

Baby - you're so little now, you'd fit int he palm of my hand. 
I don't know how you fit in my life yet, it bewilders me. 
I'm trying to carry on as normal.
I wonder how long I can pull that off. 
Who are you?

January
We have chosen her name: Violet, or Violeta here in the South.
Cora and Violeta. I can imagine her little newborn face.
She's a Violet.
I can see her older, wavy thick hair, she's a Violet.
Sweet strong child.

February 23
I am now on a hot water bag, escalda-pé, massage, floral de bach, buscopan, and synthroid and nexium and cloridrato de sertralina and showers and birthing bal and short walks and yoga regime. And lots of doula-love. 

Violet, we are ready for you!
Can't wait to meet you.
Can't wait to sleep belly DOWN
or even UP again. 

Letter to Violet the night before she was born
Violet, this last month has been a steep learning curve, learning to ride the waves of "what is", of feeling everything from despair, faith, giddiness, boredom, love for your cheeks.
I know i'm scared about us becoming four, about leaving my baby Cora "behind", turning that page…
Because it does make my heart ache.  But I realized yesterday, things have already changed. She's known that for a while. I'm scared of letting her go, opening room for you. But we have to turn the page, which in fact has already been turned. This whole pregnancy has been an intermediary chapter…and I'm tired of being in the middle.
Life is urging us to move on.
I've had 10 months to say goodbye to Cora baby, and she's done a good job of growing up some more.
Her destiny, like yours, will be to grow into her own person, away from me, but, God willing, with me somewhere around.
I know she will be the best big sister for you. She will cherish you, be eager to participate. She is eager and full of teachings.

You can come, love. 
There is a home, a bed (several!), laps, milk, warmth and love on this side. 

I had to let go

I caught myself feeling "at home" today.
I caught myself forgetting BSB
I caught myself loving the familiarity with these streets, the streets that contain this phase of my life
It was a curious and very welcome feeling
Like letting go of a balloon and watching it disappear
into an undistinguishable dot in the sky
That moment when you're not sure if you can still see it
or if it's a speck in your eye, a vague memory.
I had to let go.

sábado, 15 de outubro de 2016

On bleeding and stopping

There are days like these when I feel the bleeding stop.
That inner bleeding that threatened me so frequently over the last weeks, months.
Every now and then, there comes a day like this and gives me survival, sobrevida.
Sometimes these days turn into trampolines and the hemorrhaging stops long enough
enough to make my blood counts go up again, create reserve assets.

When I feel like myself, I can be exhausted, I can be in pain, I can be sick - but I am not threatened by any of it. That's the biggest difference.

When I'm beside myself - the smallest things make the bleeding start up and make me fear for my life.

The metaphor takes a real concrete turn when I remember the hemorrhages I had in both my births -  three total. The feeling of having the life dripping out of me was one of the most powerless moments I have experienced. Just watching, just feeling…not knowing how or when my body would react and make it all stop and get better.

Feeling thankful.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Never entirely home


Since as soon as I remember
There has always been another place, 
I have never been entirely home.
There has always been a piece, missing.
A home, away.
A long distance call to make. 
It got better when I settled down, the past becoming just that….
Till up we went and moved again

My world came crumbling down.

Be patient, I say 
Be kind. These are the hair fractures that can heal with time, 
Like that time you bumped your toe in the same place you had bumped it before and it hurt like hell,
but passed.
Or they can become like that other time, when the nail plain popped out from off my toe
And all went black. 

domingo, 27 de março de 2016

Relato de Parto da Violeta - VBAC - Parto humanizado hospitalar

Para contar a história do parto da Violeta, tenho que começar com o parto da minha primeira filha, Cora. Tende a ser assim, não é? Tudo conectado e relacionado. O contexto de um parto nunca pode ser subestimado.

Em resumo, pois a história é longa: Foi uma gravidez inicialmente conturbada, pois implicou na mudança de status de todo mundo – de dois namorados que moravam na casa dos pais para uma mãe e um pai morando em um novo apartamento juntos assumindo todas as responsabilidades de uma família de uma só vez. Mas estávamos prontos para esse passo, a gravidez nos deu o empurrão necessário.
Minha saúde estava perfeita a gravidez inteira e eu sabia desde o começo que queria um parto domiciliar. Fui atrás de indicações e fiquei com as primeiras pessoas que encontrei, uma equipe de enfermeiras obstetras. Achei a Caren, que respeitava a escolha. Como doula, escolhi uma amiga querida minha que me ajudou a lidar com a gravidez desde o princípio. A escolha do PD não foi tranquila para todo mundo da familia, passei muito tempo tendo que conversar, explicar, marcar encontros... O trabalho de parto foi longo, gradual, durando mais de 24 horas. No final, com 10 cm de dilatação, não sentia vontade de fazer força e a exaustão foi tomando conta...o que culminou numa transferência e meu pedido de cesárea pois não conseguia tentar mais. Não sei se foi uma cesárea necessária ou não, e ficaram muitas coisas mal-resolvidas entre todos envolvidos...

Dessa vez, eu pensei, vai ser diferente. Eu vou achar pessoas com as quais realmente tenho afinidade, não vou ter medo de explorar diferentes opções para o pré-natal, e não vou ter medo de dizer não se eu sentir que algo não está legal.
De cara, assim que descobri a gravidez, sabia que marcaria a consulta com a Dra. Caren. Não tive dúvidas. Ela tinha acompanhado a primeira gravidez, mas não o trabalho de parto, e fez a cesárea. Eu precisava dela presente, como uma continuação da história que não havia se fechado ainda. Ela me acolheu como se o tempo não tivesse passado, e dessa vez eu consegui me abrir muito mais, confiar muito mais. Desde o começo ela se mostrou confiante na possibilidade do parto normal, nunca me dissuadiu da ideia ou deu a entender que era algo absurdo de se pensar. E o mais importante, ela sabia da importância dessa segunda chance para mim e adotou a causa.
A gravidez foi relativamente tranquila, em outro ritmo da primeira, justo pq nossa vida já estava em andamento, tínhamos nossa famíia, casa, rotina, trabalhos…a gravidez foi um detalhe a mais que encaixou na história que continuava a fluir, não foi como da primeira vez, onde tudo parou e deu um salto mortal de cabeça pra baixo.
O primeiro trimestre passou sem que eu conseguisse pensar (ou sentir) muito em parto, ou preparação para o parto, ou se seria domiciliar ou não, ou com quem seria. Ao mesmo tempo que procurei a Caren, procurei a equipe de PD Luz de Candeeiro, pois eu havia feito vinculo com elas no final da gravidez da Cora e elas me ampararam no pós-parto, me escutando e encaminhando para conseguir mais ajuda e apoio. Achei natural que elas seriam a escolha para a segunda rodada. Cheguei a ir duas vezes nas consultas…elas foram muito ponderadas, disseram para eu não tomar uma decisão rápido, dar tempo para o parto ir se construindo dentro de mim. Uma coisa ficou clara de cara.. não dava para ter as duas equipes – Caren e Luz de Candeeiro – eu teria que escolher um caminho ou outro. E quanto mais eu pensava na ideia de NÃO ter a Caren no parto, mais meu coração apertava. Então eu respirei fundo e decidi acreditar nessa intuição – por mais que o PD fizesse sentido racional, o hospitalar (por ser com a Caren), fazia sentido pro meu coração. Então entrando pro segundo trimestre, a decisão estava tomada. Caren e pronto. Agora precisava achar minha doula.
Com ajuda de uma amiga que estava fazendo o curso de formação de doulas, fui parar numa roda de gestantes da Adele (doula). Tive dificuldade de me conectar ao tema, uma resistência grande. Mas aos poucos fui me vinuclando àquele grupo, à Adele… Acho que não faltei mais nenhum sábado depois daquele, assídua! Decidi rapidamente que queria a Adele como minha doula. Achei ela tão bem-informada, sensata, pé no chão, alguém que acreditava no parto normal, com boa energia, mas que  também entendia as variações do normal (ou seja, não romantiza demais ou acha que só existe um resultado ideal). Era isso que eu precisava! Alguém que me apoiaria para o que desse e viesse, que se fosse para ter outra cesarea, me forneceria o mesmo amparo e carinho.
E assim minha equipe se fechou – Adele e Caren, simples e sem grandes problemas de ter que lidar com a família (as palavras obstetra e hospital acalmam geral – ao contrario de parteira e casa!!). E sinceramente, eu percebi que eu não fazia questão de um parto domiciliar, eu queria um parto! Meu medo e resistência ao hospital haviam sumido. Uma parte de mim até se sentia mais segura com a ideia do hospital. Incrível como as coisas mudam em nossas vidas. No início desses encontros, não conseguia acessar mais o parto da Cora. Eu contava e recontava a história e aos poucos, algumas fichas foram caindo, algumas visões foram mudando e quando consegui rever as fotos e os vídeos, finalmente a enxurrada de emoções saiu. Pude chorar algumas coisas, expressar medos, raiva, indignação, perguntas que haviam se calado e que voltavam com força total. Com a ajuda da Caren, Adele, e outros personagens que entraram na história no meio do caminho consegui chegar a um lugar onde eu realmente sentia “essa é outra história. A da Cora foi o da Cora, agora está tudo diferente. Eu estou diferente, o momento de vida, essa bebê, essa gravidez, a assistência que escolhi...está na hora de seguir adiante!”

Os pródromos:
é…acho que estamos no 3o trimestre
Cheguei na 36a semana e comecei a sentir muitas cólicas e contrações leves, que iam e vinham. Os famosos pródromos. As vezes chegavam a ser tão fortes que eu podia jurar que estava entrando em TP latente…mas não era. Foi uma espera longa, por vezes sofrida emocionalmente (haja resiliência para lidar com tanta expectativa e “falsos alarmes”) e por algum motivo, na minha cabeça, a gravidez já tinha acabado. E nem estava perto da 40a semana! Tive que trabalhar isso dentro de mim muitas vezes. Parava de trabalhar aí decidia que não podia parar tudo, retomava o trabalho. Me cansava, parava...tinha certeza que ia acabar...mas mais uma semana ia e vinha. Eu estava muito agoniada, cada dia era uma eternidade, parecia. Chorava fácil, me irritava mais fácil ainda…Chegando na semana 38, comecei a fazer uso do Buscopan pq não aguentava mais ficar sentindo dor sem que fosse o TP… Junto com a Caren fomos avaliando se talvez não fosse o caso de começar a fazer umas intervenções, só para que a ansiedade não tomasse conta de mim. Aceitei de bom grado.
Então começamos, perto das 40a semana, a fazer descolamento de membrana (a primeira tentativa não deu certo, o colo estava muito fechado e foi dolorido demais)…Na semana seguinte já deu para fazer o descolamento, estava com 2 cm e o colo apagado mais um pouco. Também fiz acupuntura para ver se ajudava…e mais uma semana se passou. Chegamos na semana 41.
A essa altura eu estava quase em pânico, pensando que não ia entrar em TP nunca e que o parto era um sonho que não ia se realizar. Montamos um plano para aquela última semana, começando com mais um descolamento, mais acupuntura, e depois monitoramento e exames para verificar o bem-estar da Violeta, e se necessário, uma indução no hospital pouco antes de completar 42 semanas. O importante era trabalhar o colo do útero, para que essa possível indução tivesse mais chances de dar certo, já que com uma cesárea prévia, as opções de indução eram limitadas.
Lembro que a Caren foi fazer o último descolamento (que foi bem mais fácil e menos dolorido) e falou com tanta certeza e energia “Pronto, essa foi sua indução!” que fiquei impressionada.  Como quem diz: “Fiat Lux!”. Fui pra casa, fiz mais uma sessão de acupuntura e relaxei. O que eu podia ter feito, eu havia feito. Eu confiava plenamente na conduta da Caren e mais importante ainda, eu sabia que ela desejava esse parto também. Se fosse necessária uma indução, tínhamos feito tudo dentro do possível. Não estava em minhas mãos…na verdade, nunca esteve.
Fui dormir aquela noite mais pensativa, mais centrada. Quando fui pro chuveiro tomar banho a Cora disse, “Isso! Vai tomar banho para a Violetinha nascer amanhã!” Aquilo me fez rir e fiquei muito feliz, pois vai que..?
Aproveitei aquela noite e segui a sugestão de uma amiga...ela disse para eu escrever uma carta para a Violeta sobre como eu estava, meus medos, meus pensamentos, tudo...quem sabe não ajudava? Escrevi, e rapidamente surgiu uma questão que me fez chorar e chorar...que era o adeus a uma etapa da minha vida, a etapa da minha Cora bebê. Me dei conta que era preciso virar a página, uma página que já tinha começado a se virar, 9 meses atrás! Era ilusão achar que já não tinha mudado, que a Cora já não tinha se dado conta e se adaptado ao seu novo lugar! Era eu que tinha que dizer adeus e abrir os braços e o espaço dentro de mim para o que estava por vir. Então silenciosamente disse para a Violeta – agora estou pronta, agora é sua vez. Pode vir.

O parto

Acordei aquela madrugada, dia 9 de março de 2016, às 5 da manhã sentindo cólicas fortes. Não consegui ficar na cama e fui para a sala onde mais desperta pude sentir o que estava acontecendo. Eram cólicas fortes que começaram a ficar regulares...mas como já havia passado por aquilo antes, fiquei observando e esperando passar....Mas deu 6 da manhã e não haviam passado. Escrevi uma mensagem para a Adele dizendo que achava estar em trabalho de parto, mas demorei mais duas contrações antes de enviar, com medo de ser outro alarme falso. Ela respondeu falando para entrar no banho e esperar ficarem muito doloridas...fiz exatamente isso enquanto Ezequiel foi na padaria comprar pão pro café da manhã. Nisso a Cora acordou e aos poucos foi se dando conta de que a irmãzinha estava nascendo. Ela ficou uma pilha, falando pelos cotovelos, querendo ajudar.

Ativei minha rede de amigas que tinham se comprometido a acender a mesma vela onde quer que estivessem para mandar boas energias pro parto…essa parte foi linda e emocionante. Sabia que ela estavam comigo. 
Rede Materna, ativar!


Avisamos a Caren, que foi acompanhando por mensagens, orientando que eu comesse, observasse a movimentação da Violeta. Pelo menos consegui tomar um chocolate quente  e um sanduíche…calorias que seriam gastas rapidim. Uma hora depois, mais ou menos, a Adele chegou e àquela altura já estava doendo bastante, a ponto de provocar vômitos. Era uma contração atrás da outra, com pouco tempo de intervalo. Lembro da sensação como se uma faca tivesse entrando nas costas e no pé da barriga. As cólicas já não eram cólicas, ou uma sensação forte, eram contrações que arrebatavam meu corpo inteiro. A partolândia começou a tomar conta de mim, uma tonteira, um distanciamento de tudo ao meu redor, ao mesmo tempo em que estava plenamente ciente. Difícil explicar. Achei meu grito de guerra rapidamente – Ai ai ai ai aiiiiii..... Às vezes baixinho, as vezes gritando (ao meu ver! Depois nos vídeos vi que não estava gritando). Mas nunca em desespero. Eu lembro que quando começava a voltar a contração, eu começava a pensar negativamente, o tal do “Não!!!  De novo não!!” mas rapidamente deixava o não para trás e aceitava – e  assim foi até o final. O “ai ai ai” era uma forma de expressar essa aceitação: vai doer, está doendo, está doendo MUITO, e agora está passando…”

A família no banheiro antes de saírmos

A Adele ajudou apertando o quadril, que me aliviava muito...ela ensinou o aperto mágico pro Ezequiel e esses continuaram até o final, sempre que estivesse em uma posição que permitisse o aperto. Ela me dava água, suco, colocava uma compressa quente na lombar e sugeriu mais um banho antes de sairmos de casa...tudo era bom!


 A Caren pediu para encontrarmos no consultório, que ficava perto, para ela poder me avaliar e ter certeza que estava na hora de ir para o hospital. Ela não queria que fossemos parar no hospital cedo demais, com medo de que isso pudesse fazer o trabalho de parto parar, ou que o ambiente hospitalar causasse alguma mudança na evolução (ela conhecendo minha sensibilidade e entendendo a importância do que aconteceu no parto anterior).

Bastou ela ver que eu não ia conseguir subir até o consultório, que estava com 8 cm de dilatação (que foi constatado depois de um exame de toque no carro) e que eu não ia aceitar voltar pra casa, que decidimos ir logo para o Santa Lúcia. A viagem de carro foi uma mini tortura. Não tinha posição no banco de trás; eu me contorcia tentando me ajustar às contrações que ficavam mais forte com cada sacudida do carro, cada curva, cada pedra no caminho. A Cora estava no banco de trás comigo segurando minha mão. A certa altura ela começou a gemer quando eu gemia. Isso me fazia rir no meio da dor, minha linda tão calma e tão apoiadora naquele momento! Era como se ela acompanhasse partos desde sempre!
Contrações no carro - nada agradável


Chegamos no Santa Lúcia em plena manhã, por volta das 9 (??) e tivemos que passar pela recepção da emergência para chegar até os elevadores. A cada dois passos parecia que vinha outra contração. Foi muito difícil atravessar o saguão, e eu sabia que todos os olhos estavam em cima de mim, que gemia, vomitava e me contraía sem me segurar. Eu estava parindo!!! Não era hora de me importar com a opinião de ninguém! Foi libertador...

Por algum motivo o hospital estava fechado, ou a maternidade? Não lembro ao certo. Não queriam nos deixar subir. Com a ajuda da Caren e umas apeladas (“então tudo bem nascer aqui embaixo?”) entramos logo para a sala de parto normal. Já estava bem perto do expulsivo, na fase de transição.
Lembro que entrei lá e não abri o olho até o final. Tudo que existia eram as contrações, meus gritos, e as vozes de Caren, Adele, Ezequiel e algumas enfermeiras que não registrei. Como disse, estava longe, mas plenamente ciente de tudo. As sugestões da Caren e Adele eram registradas e por mais que pudesse doer ou eu sentisse que não fosse conseguir, no final respirava fundo e conseguia mudar de posição, conseguia deitar para o toque, conseguia levar a respiração até lá embaixo para oxigenar a Violeta. Teve uma vez que a Caren não conseguia escutar o batimento dela, mas era só uma questão de paciência e estava lá, firme e forte - me disseram que ela estava atrás do osso púbico e por isso a dificuldade.
Caren "sentada para o parto normal!"

Não sei dizer o tempo, mas logo depois comecei a perceber que no final da contração, se eu fizesse uma força consciente de cocô (cocô MESMO, sem vergonha, sem medo!) eu começava a sentir alívio e a vontade ficava mais forte. Lembrava de tudo que havia escutado nas palestras, nas rodas, nos relatos de parto – sabia exatamente que era o começo dos puxos. Doía tanto mas eu sentia tanta felicidade de saber que tudo estava evoluindo tão rápido e tão bem!! Eu lembrava da Adele falando da hora da covardia, que é quando começamos a questionar se realmente damos conta, e que isso queria dizer que estava muito perto de acabar...então com cada desespero que queria tomar conta (vontade de pedir analgesia, vontade de desistir, questionamentos sobre se eu dava conta mais) eu transformava aquilo em algo positivo – “se eu estou querendo desistir, se eu acho que não aguento mais, é porque está quase nascendo!!!”. Se eu me permito rachar de dor, eu me permito abrir, eu permito que a Violeta passe por mim. Então fiquei num misto de dor, suor, cansaço e sorrisos internos, pensando em todas as pessoas que estavam vibrando por mim, pensando na minha felicidade de estar acompanhada por pessoas que me queriam tanto bem e que eram tão competentes....E a cada “você está indo muito bem, Maya” “é isso mesmo” e outras frases de apoio, orientação e incentivo, eu sorria ainda mais por dentro.
Em algum lugar estava sorrindo por dentro… :)

No final, foi sugerido a banqueta, pois os puxos na maca não estavam tão eficientes. O Ezequiel ficou atrás de mim e me apoiei totalmente. A mão dele era extensão da minha e ele pode sentir a força do terremoto que trazia Violeta ao mundo. A bolsa estourou em cima da Caren em outro toque...xuáá!
Desse modo busquei energia para cada puxo, para cada força que fazia...e me disseram que foi rápido! Quando escutei a equipe da pediatria entrar, senti mais felicidade ainda, isso queria dizer que estava perto MESMO! Teve uma hora que a Caren me explicou que ela estava prestes a sair, para eu não segurar, por mais que desse vontade. Perguntou se eu queria sentir a cabeça para eu ver que não havia “mais pra onde ir a não ser fora”. Com uma mistura de pavor e curiosidade coloquei os dedos bem de levo e senti.

Não queria aquela história de cabeça indo e vindo, massageando o períneo, queria que ela saísse!!! Não segurei a força. Puxos longos, um gemido do fundo da minha alma que ninguém podia segurar e comecei a sentir a cabeça coroando! Senti direitinho!! Não senti como um círculo de fogo exatamente, apesar de saber que era isso que estava acontecendo – sentia como uma pressão tremendo, a pele do períneo se esticando ao máximo e...PLUFT!! A cabeça saiu! E o resto escorregou para fora e escutei “Nasceu!!” Um peixe escorregadio foi colocado na minha barriga, ouvi e senti o Ezequiel chorando de emoção atrás de mim. A Caren foi quem pegou e assim que sentiu o peso adivinhou “4 quilos!”.

A maior sensação? Incredulidade? Alívio? Não entender como havia conseguido? Que o mais difícil havia passado!!! Felicidade! Estava vivendo tudo que não tinha conseguido no primeiro parto, um parto super fisiológico, natural, ritmado. Em meio desse turbilhão, porém, também senti uma calma tremenda.  Fiquei com ela no colo, choramingando “a gente conseguiuuuu!!” Não conseguia acreditar. Logo depois veio o "Acabouuuuu!!" A felidicade era geral, de todos na sala. Tinha sido uma vitória de todos que haviam conseguido re-escrever uma história junto comigo. 

A pediatra avaliou e nos deixou, não teve pressa em nos separar. Mas logo veio uma enfermeira ou técnica que pediu para avaliar, alegando que não podia ficar esperando a tal hora de ouro. Isso causou um estressezinho, mas eu lembrei que ainda havia a placenta pra nascer e não fiquei tão incomodada de levarem a Violeta enquanto me concentrava na próxima etapa do processo. Me colocaram na maca para ficar mais confortável e logo comecei a sentir muita pressão novamente, como se outro bebê quisesse coroar. A placenta estava saindo, e com um ajudinha, saiu de uma vez, seguido de bastante sangue, uma cachoeira! Rapidamente a Caren entrou em protocolo hemorragia (algo para o qual ela estava pronta, já que havia ocorrido hemorragia na cesárea da Cora) para prevenir uma situação mais grave. Mas foi o suficiente para eu descompensar, a pressão caiu e fiquei alguns minutos para me recuperar, lutando para não perder a consciência, chupando balinha, suco, água, pirulito...Levei três injeções de oxitocina no bumbum e tinha oxitocina no soro também.

Depois que estabilizei, avaliaram o períneo e houve somente uma pequena laceração de pele, que levou alguns pontos.  Bebê grande, expulsivo à jato, e somente uma pequena laceração de pele! Me senti super vitoriosa. A essa altura a Violeta estava de volta comigo e o peso se confirmou, 3,990 kilos, 51 cm. Uma bebezona pronta para a vida. Ela foi classificada como GIG, ou grande para a idade gestacional, que foi questionado pela equipe, pois ela tinha nascido com 41 semanas e 1 dia. Mesmo assim...protocolos de hospital...tiveram que ficar monotirando a glicemia dela de tantas em tantas horas (e foi o motivo pelo qual ficamos duas noites internados em vez de só uma).  Mas ela não teve nada e não precisou de complemento em momento algum.
Acabou!

Me lavaram, arrumaram, e fui para a sala de recuperação enquanto Ezequiel arrumava toda a burocracia da internação e convênio que não tínhamos tido tempo de fazer antes do parto. Adele ficou comigo até poder trocar de lugar com ele…

Nesse tempo todo, Cora estava com os avós no hospital, e eles estavam aguardando no apartamento a nossa subida.
Fiquei com a Violeta embaixo, completamente enamorada, serena, tendo flashes do parto, tentando entender o que havia acontecido...e o mais impressionante, me dando conta que ela tinha uma marquinha na testa no formato de um V! Era mesmo para ser Violeta, nome que causou tanto vai e vem e dúvidas durante a gestação.
E foi assim! Simples assim...De tão simples me deixou encabulada, tentando entender! Não tem muito o que entender além de: Aconteceu! Consegui! As dúvidas e sabotagens que tinham me atacado durante a gravidez inteira não tinham mais mérito. Eu também podia parir, eu pude viver essa experiência!

Depois de passar por essa experiência, algumas coisas ficaram bem claras para mim. Por exemplo – não acho que o parto normal é algo que toda mulher TENHA que viver, não acho que seja assim. Acho que se for algo que você quer, você devia ter todo o direito de ter as condições ideais. Você tem que querer, sim, e querer muito! Por que vai doer mais do que qualquer coisa e se alguma coisa vacilar, é muito fácil aquilo virar uma experiência traumática ou pedirmos “para sair” Eu pude sentir na pele a fragilidade do momento – qualquer dúvida, medo, resistência aumentava a dor em mil por cento...Então imagina se não confiasse nas pessoas ao meu redor? Imagina se fosse recebida com palavras agressivas? Se não tivesse tido respeito? O parto já é traumático, no sentido de que seu corpo passa por algo incrivelmente forte que exige recuperação e tempo para assimilar – agora imagina se além do trauma “natural”, digamos, ainda haja traumas emocionais, violência obstétrica, etc.? Me arrepio só de pensar!

Então ficou essa lição para mim, além da libertação de ter conseguido fazer do “meu jeito”, realmente escutando meu coração (o que não foi fácil) – isso me fortaleceu, pois eu tive a confirmação de que meu jeito dá certo, também é válido! Que não tem nada “errado” comigo, ou incompetente...eu faço bebês grandes e tudo bem! Eles nascem!

E são tantas outras lições, sentimentos...No momento fico com o puerpério que continua a exigir respiração profunda, fé no futuro (de que é só um momento e vai passar....), recuperação da anemia que ficou da hemorragia do pós-parto imediato e de outro incidente que me levou a receber transfusão de sangue (outra história!), ajustes mil aqui em casa com a família, cada um aprendendo seus novos lugares. 



Sou extremamente grata às mulheres que me acompanharam, começando com Caren e Adele e todas as outras que cruzaram meu caminho ou que já estavam juntas comigo desde antes da gravidez (Rede Materna, o que dizer de vocês???). Mulheres que juntas me deram força e coragem para passar pela gravidez e o parto, escrevendo outra história. Também sou grata ao Ezequiel que acompanhou da forma mais íntima possível o nascimento de sua filha e me emprestou sua força e solidez no momento mais importante... isso com certeza serviu para nos aproximar ainda mais.

Links para alguns recursos e profissionais que considero muito:

https://adeledoula.wordpress.com
http://matriusca.com.br
http://birthwithoutfearblog.com
http://alaya77.blogspot.com.br