sábado, 3 de abril de 2010

Previously, on Lost...



Come writers and critics
Who prophesize with your pen
And keep your eyes wide
The chance won’t come again
And don’t speak too soon
For the wheel’s still in spin
And there’s no tellin’ who that it’s namin’
For the loser now will be later to win
For the times they are a-changin

Bob Dylan


Chove chuva, chove chuva sem parar. Caí dentro da minha cama bêbada de sono e acordei com o mundo se acabando lá fora. Uma das melhores sensações que há, in my opinion. Acordei sem saber se era domingo, se era o mesmo dia que 6 horas antes me acordou, sem saber há quanto tempo dormia...

Como diria um bem-te-vi querido, “the times they are-a-changin’ ”, se sente no ar. As vezes eu posso até apalpar, tem textura. Não sei se é a overdose de profecias 2012, os noticiários com terrmemotos/ciclones/furacões/dilúvios a cada hora, a orfandade política que Brasíla vive no momento ou até o outono esquizofrênico do Planalto Central, mas há um quê que clama “tem qualcosa che non va! “ Algo de: nunca foi tão assim, foi?

Quem sabe faz parte de chegar aos 25, quem sabe seja muitas temporadas de Lost, mas o tempo também parece mudar em escala notável. Me perco nos anos como os senhores que começam a preencher cheques com o bendito 19... Declaro “2005” com tanta naturalidade como “2014”. Me perco ao me localizar na semana...é 4ª mesmo ou é 2ª e parece 4ª porque já me projetei pra 4ª e então vou viver 4ª duas vezes? Ou é 6ª e na pressa dos dias que escorrem as vezes iguais em suas rotinas não me dei conta?

“Não, Maya, é sábado...” Ah.

O mesmo bem-te-vi me lembrou, “esse é o ano do Tigre, né?”

Fui pesquisar...

Enérgico, ligeiro e único, não se pode marcar bobeira com o Tigre, é preciso atenção e cuidado. Assim como o animal que o representa, o Ano do Tigre tende a ser recheado de novidades, surpresas e mudanças, que chegam de uma hora para a outra. Os acontecimentos se precipitam e as consequências tendem a ser duradoura.

Mas não é que é isso? Enérgico, ligeiro e único. Intensidade vertiginosa que exige adaptação a toda custo para não dar bobeira.

Hora de confessar algo: me sinto extremamemte reconfortada quando ouço coisas desse tipo. Me criei dentro de mudanças vertiginosas e uma das primeiras habilidades que desenvolvi cedo foi a da adaptação para a sobrevivência, sem me apegar a muito e levando somente o necessário, pois amanhã deverá caber na sua mala e pesar menos de 25 quilos.

Tive a fase dos pesadelos com tsunamis, que na época não sabia nem o que eram, por volta dos 8. Sonhava estar na praia e a onda vinha de longe -subindo, subindo, chegando, chegando -junto com o meu terror, pois eu sabia que a força era arrebatadora e a morte, certa. Classicamente, sempre acordava antes que chegasse.

Criar raízes a situações nunca foi a minha e por muito tempo me senti completamente deslocada e inadequada por sentir tanto desconforto quando algo pedia raízes. Como assim, você não entende! A qualquer momento eu vou precisar ir! À la Nelly Furtado, I’m like a freakin bird, dude...Por um tempo até que dava alívio, mas logo a coceira voltava ou o meu tempo chegava, determinado por terceiros. De contrapartida criei raízes a pessoas de forma sedenta, vai entender.

Então, quando vejo que o mundo caminha a um ritmo onde de uma hora pra outra casas caem, o lá não é tão lááá, cidades entram em pane, e as afinidades se definem com mais nitidez, respiro tranquila. Finalmente, minhas características sobreviverão à seleção natural e o único que importa afinal são as pessoas, somos nozes e a nossa humanidade básica.

Eu sei que estou viajando, um pouco. Um pouco muito? Sei que não é o mundo inteiro que de repente decidiu que chegou minha vez de me sentir a vontade e tampouco acho que tudo está de perna pro ar. Como disse, talvez seja a influência de tanto assistir Lost, mas sinto algo no ar e esse algo me traz esperança. Talvez eu também tenha conseguido achar um meio-termo.

Em esse espírito, vejamos o horóscopo de hoje para Leão: Sol em Áries, signo compatível ao seu traz a você mais otimismo e criatividade para a elaboração de planos e projetos futuros.

P.S. O bendito bem-te-vi que trouxe essas e outras reflexões, por um não-acaso, é Áries...

Um comentário:

  1. Eu juro pra vc que tbm tinha sonhos de tsunamis... até no Lago Paranoá!
    É engraçado, a imagem é de um tsunami, algo tão invasivo mas as mudanças parecem acontecer tão silenciosamente, né...
    Bonito texto, cherry!
    (só descobri hoje que cherry é cereja =O, sempre pensei só na expressão mon cherry... tanta coisa, né!)

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